sábado, 1 de maio de 2010

Minha Querida Foz do Arelho

Minha Querida Foz do Arelho, tanto mal que te têm feito…
Não sei como tens ainda força para sobreviver, depois de décadas de maus tratos.
É pena vivermos num Estado (pouco) Democrático de Direito, senão, muitos seriam os que se sentariam no banco dos réus, e teriam de te dar tamanhas indemnizações que dariam para te transformar numa praia de qualidade superior às paradisíacas do Pacífico, ou pelo menos, para pagar durante 50 anos a existência de uma draga permanente para assegurar que durante esse período não haveria problema de qualquer espécie.
As empresas inconscientes e irresponsáveis que efectuam descargas ilegais que te poluem, os (alguns) gananciosos mariscadores que apanharam durante anos bivalves abaixo do tamanho previsto pela Lei para vender para viveiros espanhóis e que com isso ajudaram a estragar a fauna marítima (já para não falar dos famosos e ilegais “aparelhos” para peixe, navalheiras, enguias e afins), os políticos que não se entenderam durante anos impedindo uma força conjunta mais valorosa para defender os interesses da nossa região, e não esqueçamos dos que no passado alegadamente se aproveitaram das areias da Foz do Arelho para tirar dividendos próprios.
Mas os maiores culpados são o Ministério do Ambiente e todo um sistema burocrático que não funciona, cujos detentores do Poder são aparentemente autistas.
Senão vejamos: alertou-se o INAG sobre a deterioração do Cais da Foz do Arelho, o INAG responde que é o LNEC que deve fazer o projecto e a Capitania o relatório de situação, e até ao momento nada se fez; alertou-se que o canal da Aberta deveria ser fixo com pedras de grande porte ou algo suficientemente forte para que as marés não alterem a sua posição, o INAG nunca o quis; alertou-se que para ter uma Lagoa saudável se deveria retirar areia do centro da Lagoa, levando-a para outros lados (por exemplo, reforçar zonas costeiras portuguesas com problemas de erosão, o INAG nunca o quis; a Deputada caldense Maria da Conceição e os autarcas caldenses e obidenses convidaram a Sra. Ministra para ver a Lagoa de Óbidos pelos seus próprios olhos, e a Sra. Ministra, mal aconselhada pelos responsáveis do INAG, recusou o convite para a visita; o actual Governador Civil de Leiria viu pelos seus próprios olhos o que se estava a passar na Foz do Arelho, e preocupado com a Lagoa, conseguiu trazer em segredo a Sra. Ministra do Ambiente à Foz do Arelho, algo que o INAG ignorou e, sob a forma de birra, manteve a sua intenção de apenas fazer dragagens no final deste ano, numa atitude de total desprezo pela região Oeste, pelos autarcas, pela população, mas sobretudo, pelos comerciantes e veraneantes, naquilo que pode ser considerado uma afronta pública.
Só com o esforço da população, dos autarcas caldenses e obidenses, do Governador Civil de Leiria, da Sra. Deputada Maria da Conceição e da própria comunicação social, é que a Sra. Ministra acabou por dar um puxão de orelhas aos responsáveis do INAG, após visita fantasma à Lagoa de Óbidos.
Mas pergunta-se: porque a Sra. Ministra recusou o convite da Deputada Maria da Conceição para vir à Foz do Arelho, mas aceitou o do Sr. Governador Civil? Resposta: porque hoje em dia, só viajamos com os nossos “pares” e não há respeito pela Democracia, pois à luz da Ciência Política e da Filosofia do Direito o Governo não é Soberano, mas a Assembleia da República sim, ou seja, a Sra. Ministra estava obrigada a dar uma resposta mais positiva a um Deputado. O melhor exemplo foi dado por um cidadão comum recentemente que se recusou a responder perante a Assembleia da República (relembro, Órgão de Soberania) a perguntas sobre alegados tráficos de influência ou alegados casos de corrupção passiva e activa. Isto significa que somos induzidos a pensar que na aplicação da Lei existem vários pesos e várias medidas, consoante se trate deste ou daquele cidadão.
A isto acrescentamos os milhões de euros que alegadamente são desviados neste ou naquele processo, o tráfico de influências, toda a alegada corrupção a que assistimos frequentemente, sem qualquer responsabilização. É por isso que os cidadãos em geral não acreditam neste sistema que está podre, e são os próprios podres que se fingem arautos impolutos.
Relembro que um dos episódios da História onde se iniciou a separação de poderes (Justiça e Política) ocorreu há mais de 300 anos, quando se decapitou um Rei porque este não defendia os reais interesses dos cidadãos (então seus súbditos).
Ah, minha Foz do Arelho cheia de História, mas tu hás-de continuar a sobreviver, pois conseguir-se-á que tenhas novamente praia e água limpa, e nem precisas de Bandeira Azul para que te amemos como és, delícia das crianças, regalo dos turistas, paraíso dos pescadores.
Uma vez focense, sempre focense…

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